Mag Magrela – grafiteira

3 de abril de 2015 Comente »
Mag Magrela – grafiteira

Jornal Mulier – Novembro de 2013, Nº 118

“Nunca senti nenhum tipo de barreira pelo fato de ser mulher”, afirma grafiteira Mag Magrela

Mulier – Mag, por favor, conte-nos sobre suas origens e formação.

Mag Magrela – Sou de São Paulo, da Vila Madalena. Sou autodidata, sempre tive um contato forte com a arte, com o desenho. Desenho desde que me entendo por gente, sempre foi meu modo de expressão. Sou muito criativa, inventiva. Sinto que aprendi observando meu pai pintando telas.

Mulier – Quando, onde e por que começou a grafitar?

Mag Magrela – Comecei a pintar nas ruas no final de 2007, em São Paulo, com um grupo de amigos. Gosto de desafios, e a rua proporciona essa sensação. São Paulo, do final dos anos 1990 para cá, é a cidade exemplo da diversidade de arte de rua. Por sempre desenhar e ver desenhos pelas ruas, pensei: por que não?

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Mulier – Você se inspira em alguém ou escolas/estilos em sua arte?

Mag Magrela – Sempre tive contato com artes plásticas e música, meu pai fez tudo isso ser muito presente na minha vida. Minha casa é recheada de telas pintadas por ele. A base do meu trabalho, como as cores, trago dessa influência do meu pai. Mas acabei encontrando o meu estilo nas ruas, nos muros, observando outros trabalhos. Identifiquei-me com a linha na arte de rua dos personagens e comecei a estudar mais como eu poderia encontrar meu estilo dentro dessa linha.

Mulier – Quais são seus temas prediletos?

Mag Magrela – Sou influenciada por muitas coisas, em resumo, é a mistura de viver em São Paulo, que traz a sensação de repressão, de luta diária, de medo, de guerra, de bloqueios, de tudo ser muito rápido. Junta com o fato de ser mulher, da sensibilidade aguçada, da cobrança de ser perfeita. E também tenho pesquisado sobre minha história, trazendo elementos da base da construção da minha família, contos e acontecimentos de meu pai, sertanejo baiano, e de minha mãe, portuguesa. Tem sido uma pesquisa interessante. Tudo isso mistura e faz quem eu sou.

Mulier – Você retrata as mulheres em sua arte?

Mag Magrela – São mulheres alaranjadas que sempre estão questionando algo. Minhas mulheres são um autorretrato. “Elas” não estão felizes, sofrem, têm dores, são reprimidas e reprimem também. “Elas” são meu reflexo, e eu, o reflexo da sociedade.

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Mulier – Ser mulher tem alguma relação com as escolhas temáticas? Por quê?
Mag Magrela – Acredito que sim.  O fato da minha condição mulher traz vivências e sensações que, como homem, eu não saberia.

Mulier– Como analisa a participação feminina nos trabalhos de grafite em uma arte considerada transgressora?

Mag Magrela – Em relação ao grafite percebo as meninas saindo dos bastidores. Geralmente elas começavam a pintar por causa do namorado que era grafiteiro. Hoje as meninas estão indo às ruas para pintar com as amigas. Está mais fácil pintar na rua, as pessoas estão aceitando mais. Isso facilita.

Mulier – Há diferenças de abordagens temáticas e de estilos em relação aos homens?

Mag Magrela – Acredito que não. Isso vai muito da pessoa, da vivência dela.

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Mulier – Existe preconceito pelo fato de ser uma mulher grafiteira?

Mag Magrela – Nunca senti nenhum tipo de barreira pelo fato de ser mulher, e sim facilidades. Sinto que as pessoas confiam mais.  O pessoal muitas vezes fica surpreso com meu trabalho, por não ser fofo. É impactante. Já ouvi uma vez uma criança falando para mãe, quando me viu pintando na rua: “nossa mãe, mulher também sabe desenhar!”. Achei engraçado isso.

Mulier – A chamada “street arte” ou “arte de rua”, aquela produzida em lugares inesperados ou mesmo degradados, tem interferido de alguma maneira na vida das grandes cidades?

Mag Magrela – Tem interferido para melhor.  É muito mais do que deixar as ruas belas, coloridas. Os muros sempre nos dizem algo, são as pessoas se comunicando. Quebrando barreiras internas e externas. É uma ponte de comunicação. Fazem as pessoas pararem, olharem ao redor, sentir de novo a rua, o outro. A arte de rua mostra outras possibilidades de expressão. Veio às ruas com força, para todos, de todas as classes sociais. Tirou a arte das galerias, da mão da elite. Não existe curador para dizer se aquilo que está nas ruas é arte ou não. Simplesmente é.

Mulier – Como surge a ideia de grafitar um espaço? São apenas lugares degradados e abandonados ou as pessoas/poder público/instituições também solicitam trabalhos? 

Mag Magrela – Quando se vai fazer um “rolê” de grafite, sair à caça de muros pelas ruas, gosto de muros degradados, com manchas, muro que ninguém cuida. Faço o personagem se encaixar no contexto do muro, fazendo até que esse muro se destaque e ganhe vida. O convite para participar de uma exposição ou na produção de algum mural pode, sim, acontecer, o bacana é saber que seu trabalho se encaixa com o convite. Mas tomo bastante cuidado onde exponho meus trabalhos, não quero fazer ligação com ideias que não acredito.

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Mulier – Seu trabalho de “street arte” está concentrado em São Paulo ou já grafitou em outros lugares no país e/ou no exterior? Tem dimensão de quantas obras tem espalhada?

Mag Magrela - Recentemente fiz uma viagem à Europa e pintei em Portugal, no Porto, em Sintra e em Lisboa, também na Inglaterra, em Londres. Em Portugal, pintei com grandes artistas da cena da arte urbana de lá, como Gonçalo Mar e Ram Miguel. Em Londres, encontrei alguns artistas brasileiros, Alex Senna e Cranio, pintamos o maior muro feito por brasileiros lá. Foi maravilhoso ver como os artistas brasileiros são respeitados fora do Brasil. Fico feliz e espero fazer grandes obras por todo o mundo. Acredito ter mais de 200 muros espalhados por aí.

Mulier – Sua arte é essencialmente “street arte” ou você também produz em outros ambientes e/ou materiais? É possível viver da arte e do grafite?

Mag Magrela – Faço arte de rua e pinto telas. Sim, é possível viver de arte, participando e/ou produzindo projetos, como exposições em galeria, vendendo telas, eventos de grafite, oficinas, enfim, é muito amplo.

Conheça mais sobre o trabalho de Mag Magrela:

www.magcrua.blogspot.com.br

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