“Impeachment” pode desencorajar mulheres à política partidária e eleitoral

21 de setembro de 2016 5 Comentários »
“Impeachment” pode desencorajar mulheres à política partidária e eleitoral

A candidatura de Dilma Rousseff à Presidência, sua eleição e a maior presença de mulheres em ministérios durante os governos do PT encorajaram muitas brasileiras a lançarem candidaturas a diversos cargos políticos nos últimos anos.

As mudanças na Lei Eleitoral também contribuíram para esse incremento, pois obrigaram os partidos a “preencher”, e não mais “reservar”, no mínimo 30% das vagas às mulheres para os cargos proporcionais: vereadoras, deputadas estaduais/distritais e deputadas federais.

Além de maior presença de candidatas, o tema “mulher” começou a ser recorrente nas campanhas femininas e masculinas. Isso porque as candidatas, enquanto mulheres, reconhecem a necessidade de mais políticas públicas dirigidas às mesmas, conquistas e garantia de inúmeros direitos, já que vivemos em uma sociedade machista e desigual.

Também pesou o fato do eleitorado brasileiro ser um sua maioria feminino, 52%, já sendo quase 6,5 milhões a mais de eleitoras em comparação aos homens.

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Os números das três últimas eleições municipais mostram o aumento de candidaturas femininas. Para as prefeituras: 10,4% em 2008, 12,6% em 2012 e 12,78% em 2016.

Aumento significativo foi verificado para a Câmara Federal: 19% em 2010 e 29,15% em 2014, assim como nas Assembleias Legislativas e Câmara Distrital: 21,4% em 2010 e 29% em 2014.

Como podemos observar, focando nas eleições municipais, houve aumento de 2 pontos percentuais de 2008 para 2012, mas apenas 0,18 ponto percentual de 2012 em relação a 2016 nas candidaturas de mulheres às prefeituras, eleição que acontece após o impeachment.

No caso das candidatas a vereadoras, houve aumento de 10 pontos percentuais de 2008 para 2012, um grande avanço, muito em função da lei de cotas. No entanto, em relação a este ano (2012-2016), há um pequeno incremento de 0,4 ponto percentual.

Existem várias hipóteses entre os fatores para o crescimento quase imperceptível no percentual de candidaturas para o atual pleito: um desestímulo simbólico, ao ver a primeira presidenta eleita do Brasil sofrer um questionável processo de impeachment recheado de episódios machistas e misóginos; uma crise de descrédito em relação à política partidária e seus escândalos; e mudanças na legislação eleitoral com o fim do financiamento empresarial de campanhas.

Este último item tem gerado controvérsias. Se por um lado pode inibir trocas de favores políticos e corrupção, além de baratear campanhas, também há um lado ruim, pois dá mais chances de vitória àqueles que têm mais dinheiro e podem investir em suas próprias campanhas.

Assim, as mulheres ficam em desvantagem, porque têm maior dificuldade em conseguir financiamento partidário, por serem mais desconhecidas do eleitorado no mundo masculino da política e pelo machismo dos partidos, que privilegiam a distribuição do dinheiro do fundo partidários aos candidatos homens, já conhecidos na política e com mais chances de vitória.

Elas também possuem menos dinheiro para investir em suas campanhas. Como mostram os dados do IBGE, as mulheres ganham em média 70% dos salários masculinos e 40% delas chefiam suas famílias.

Portanto, nas Eleições 2016, há o risco de poucas mulheres eleitas, mantendo-se o quadro de subrepresentação já existente, pois pesquisas mostram que quanto maior o número de candidatas, maior o número de eleitas.

Diante desse quadro, diminuem as chances de avanços e garantia de direitos das mulheres, em um parlamento cada vez mais masculino e pouco representativo da diversidade social brasileira, em que as mulheres são maioria da população e do eleitorado.

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5 Comentários

  1. Constancia Lima Duarte setembro 21, 2016 at 12:14 - Reply

    Achei excelente a matéria sobre as mulheres e a política. E concordo que estamos vivendo um retrocesso que pode ser muito prejudicial às mulheres.

  2. Rizolete Fernandes setembro 21, 2016 at 13:10 - Reply

    Uma análise correta e oportuna: o retrocesso está na cara, de par com aquele das esquerdas, no mundo. É preciso estar atentas…

  3. Vania Vasconcelos setembro 21, 2016 at 17:47 - Reply

    É claro o retrocesso articulado contra os direitos sociais, sobretudo das mulheres, atacadas simbolicamente pela recente re-masculização dos governos em todos os níveis.

  4. Vania Vasconcelos setembro 21, 2016 at 17:48 - Reply

    É claro o ataque articulado contra os direitos sociais, sobretudo das mulheres, simbolicamente destituídas pela recente re-masculização dos governos em todos os níveis.

  5. Marize Freesz setembro 23, 2016 at 10:33 - Reply

    O impeachment desencoraja a prática da corrupção independente de serem homens ou mulheres. Há corruptos em todos os partidos e em ambos os sexos. É o que tenho constatado nos meios de comunicação.

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