Jornal Mulier – Julho de 2013, Nº 114
As mulheres não são nem 20% dos escaladores no Everest e contam com desafios diferenciados em relação aos homens
Mulier – Karina, sempre pedimos às nossas entrevistadas que se apresentem, contem um pouco sobre elas, suas origens e formação…
Karina – Meu nome é Karina Oliani, tenho 31 anos, nasci em São Paulo e desde muito pequena sou apaixonada por aventuras e desafios. Atualmente sou médica e também dirijo e apresento minha série chamada “Do Jeito Delas” do Canal “OFF”, onde pratico vários esportes extremos na companhia de minha irmã, Nathali Oliani.
Mulier – Quando e por que começou sua relação com os esportes?
Karina – Isso nasceu comigo, como meus pais contam. Desde cedo, já subia as escadas por fora do corrimão (nunca do jeito normal) e dizia que estava escalando. Tínhamos uma casinha de bonecas e, enquanto minhas duas irmãs brincavam com as bonecas dentro da casinha, eu amarrava uma corda na chaminé (risos). A atração por desafios e natureza é algo que tenho muito forte na minha vida.
Mulier – Você é a mais jovem mulher brasileira a escalar o Everest. Como foi esta empreitada?
Karina – Foi incrível! Desde 2009, quando fui pela primeira vez ao Nepal gravar o programa “Extremos”, do Multishow, apaixonei-me pela montanha, mas era algo ainda muito distante para mim. Em 2010, quando fui contratada para ser a médica de uma equipe de escaladores americanos no Nepal, decidi que ia mesmo tentar escalar o Everest. E levou três anos para que eu conseguisse organizar essa expedição, principalmente viabilizá-la economicamente, já que estamos falando de uma das montanhas mais caras do mundo.
Mulier – Quais os principais desafios que encontrou para chegar ao topo da montanha mais alta do mundo?
Karina – O primeiro desafio, como já disse, foi conseguir a grana para ir para lá, o que me tomou muita energia e muito tempo. Mas, uma vez que estive lá, os desafios só mudaram de figura. Tenho asma induzida por exercício e, na montanha, com o ar extremamente frio e seco, tive alguns ataques de asma assustadores. No dia 15/05, quando chegamos no campo 4 (Soutcol. A 8000m), os ventos estavam fortíssimos (mais de 100km/h), com temperaturas de -40C, e não pudemos escalar naquela noite como o planejado. Isso nos fez ficar com poucos cilindros de O2 e precisamos separar a equipe. Também tive congelamento do meu olho esquerdo às 2h da madrugada quando estava a caminho do cume no dia 17/05. Enfim, perrengues não faltam em uma montanha como essa.
Mulier – Viu muitas mulheres no caminho?
Karina – Não, mulheres não são nem 20% dos escaladores no Everest.
Mulier – As mulheres encontram os mesmos desafios para a escalada de uma montanha como o Everest que os homens?
Karina – Claro, e alguns outros mais. Como, por exemplo, para nós, fazer xixi a -40C não é tão simples (risos).
Mulier – Como vê a participação feminina nos esportes em especial nos esportes radicais?
Karina – Eu amo ser mulher, vaidosa e fazer basicamente esportes masculinos. Isso causa uma surpresa enorme nas pessoas. Já passei por várias situações de preconceito e ouvi pessoas dizendo: “Essa loirinha aí não passa do campo 1!”, e eu não digo nada, sei que minhas ações vão falar por elas e que no final ganharei o respeito e a admiração mesmo dessas pessoas mais descrentes (se for uma boa palavra para isso).
Mulier – Quais seus próximos objetivos de escalada?
Karina – Terminar os sete summits (as montanhas mais altas dos sete continentes – já fiz quatro das sete).
Mulier – Pratica outros esportes?
Karina – Muitos, mas principalmente os esportes de prancha (wakeboard, snowboard, surfe) e mergulho.
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