Evel de Petrini – Associação das Mães da Praça de Maio

3 de março de 2013 Comente »
Evel de Petrini – Associação das Mães da Praça de Maio

Jornal Mulier – Agosto de 2010, Nº 79

Segundo Evel de Petrini, as Mães vão seguir reivindicando a luta dos filhos desaparecidos, mostrando ao mundo que a causa buscada por eles está viva

Mulier – Quem são as Mães da Praça de Maio? Quais suas origens?

Evel – As Mães da Praça de Maio são um grupo de mulheres que saíram à rua em busca de seus filhos que não chegaram, que foram detidos, desaparecidos pela Ditadura Civil-Militar. Com o desaparecimento de nossos filhos, saímos a buscá-los, e como não nos davam ouvidos, foram ocultando, nos demos conta, em primeiro lugar, que a decisão de continuar lutando foi porque não poderíamos aceitar que sumiram com nossos filhos e não nos dissessem nem porque nem onde estavam. Então isso fez com que seguíssemos lutando para saber onde estavam no começo. Depois fomos dando conta de que isso era um projeto político, terrivelmente espantoso, criado nos Estados Unidos para a América, porque não se passou somente na Argentina. Passou em toda a América Latina, no Brasil também aconteceram desaparecimentos de pessoas, e nos convencemos que o propósito era eliminar o opositor político para implantar um plano de miséria para o povo, um plano econômico, para as altas esferas e para o grande capital, que também participaram da nefasta situação de desaparecimento forçado de pessoas.

Da raiz disso nasceram as Mães. Com o correr do tempo, fomos dando conta de muitas outras coisas, porque quando recém saímos desesperadas pelo horror de não sabermos onde estavam nossos filhos e não queriam dizer onde estavam percebemos que não ia ser tão fácil, pois o projeto era esse: desaparição forçada de pessoas. Depois também nos inteiramos dos campos de concentração, do horror da morte, do desaparecimento, da tortura e da violação, de todos os horrores da Ditadura. Assim, nós, Mães, decidimos continuar essa luta, se não conseguimos recuperar fisicamente nossos filhos, temos que seguir lutando para reabilitá-los, porque quiseram fazer crer ao mundo que eram terroristas, e não tinham nada a ver com terrorismo. Nossos filhos eram revolucionários que queriam uma mudança, queriam uma sociedade melhor, um mundo melhor para que todos pudessem ter os mesmos direitos, as mesmas possibilidades. Nos demos conta disso, que o projeto era desaparição forçada de pessoas, campo de concentração, tortura e violação para eliminar todos aqueles que se opunham ao projeto político-econômico da Ditadura Civil-Militar. As Mães, cada vez mais fortes, começaram a trabalhar com muito mais segurança, não íamos tirar isso das nossas vidas e, com muito sacrifício, com muitos anos, com muita força, com muitas de nós sendo presas – nos agrediram, nos prenderam em casa – todo o horror que vivemos é pouco em relação a poder reivindicar como podemos decidir hoje, depois de 33 anos, com a cabeça aberta, sabendo que nossos filhos eram revolucionários, queriam uma mudança como tal para seguir na história, o assassino e terrorista era o Estado.

Mulier – Os movimentos sociais têm sido muito criminalizados na Argentina?

Evel – Aqui na Argentina, por sorte, lutou-se muito. Hoje há muitas organizações sociais reivindicando a luta popular. A partir do governo de Kirchner (Nestor Kirchner, presidente da Argentina entre 2003 e 2007) é possível um sistema mais progressista, coisa que não tivemos com Alfonsín (Raúl Alfonsín, presidente entre 1984 e 1989) e os outros. O problema maior foi quando terminou a Ditadura, se instaurou um governo constitucional, sempre valioso, porque todo governo constitucional é superior a qualquer Ditadura, o pior problema que pode ter um país. Alfonsín assumiu com todo o apoio popular, porque nós estávamos convencidas que não queríamos repetir o que havia se passado, houve muito sofrimento no período da Ditadura. Alfonsín negociou com os militares, criou as Leis de “Obediência Devida” e “Ponto Final” (leis que isentaram de responsabilidade os militares que cometeram delitos durante a Ditadura, como desaparecimentos e mortes), parte da grande impunidade, que agora podemos pensar em condenar (as duas leis foram revogadas em 2003) e depois também o problema econômico, da dívida externa – paradoxalmente, agora são os radicais que não querem que se pague – enfim, são muitos problemas para se resolver politicamente.

Mulier – Como trabalham as Mães e as Avós da Praça de Maio?

Evel – A Associação das Mães da Praça de Maio trabalha sempre junta, tem os mesmos conceitos, a mesma forma de atuar e a mesma forma de pensamento. Mas não somos uma massa, discutimos muito aqui nesse salão, fazemos uma ou duas reuniões por semana para explicar, para falar, para conversar, para saber o que nos parece ser mais conveniente política e socialmente. Nós, Mães, aprendemos muito a fazer política, porque quando saímos à rua a maioria era mães da cozinha, tínhamos apenas uma noção da política. Parecia-nos que a política era coisa dos homens, era algo grande, que depois assumimos com muita certeza e amor, porque estamos convencidas de que a melhor forma de participar é fazer política, porque tudo é política. É um horror dizer: “ah!, não faço política”. Não, tudo é política, e se não fazemos política para demonstrar que a política tem que ser ética, ser para o povo, para o bem da gente de seu país, perdemos novamente a oportunidade e vamos dizer: “ah!, o mafioso, que rouba, que entrega o país para o exterior…”. Então a forma de poder realmente reabilitar a política é fazendo política. Nós fazemos política, somos um grupo que faz política sem partido, porque, às vezes, os partidos, por interesses pessoais ou interesse de grupos, traem a verdadeira política. Nós, as Mães, fazemos política e nesse momento estamos apoiando o governo da presidenta Cristina Kirchner por considerar que está sendo como queríamos, um projeto, um plano político assim como queriam nossos filhos, um plano progressista de um mundo diferente para o país e para o povo. É isto que as mães fazem nesse momento como política.

Mulier – Quais os atuais números de filhos e netos desaparecidos e/ou encontrados pelas Mães e Avós da Praça de Maio?

Evel – As cifras não interessam às Mães, porque não buscamos os netos, isso fazem outros organismos que trabalham diferente. Nós não podemos compartilhar trabalho com outros organismos que não aceitam as condições das Mães. Tais condições são, em primeiro lugar, não aceitar a morte. Nós não aceitamos a morte de nossos filhos, não buscamos cadáveres, não queremos monumentos póstumos. As Mães consideram que nada vai apagar o ocorrido com nossos filhos, mesmo nos dizendo quem matou, assassinou, enterrou, responsabilizando alguns e apagando tudo. Nada vai fazer isso. Para nós, nossos filhos estão vivos. Isso política e juridicamente. Humanamente nossos filhos estão vivos em nós, porque nossos filhos não erraram o caminho, eram revolucionários e estamos tremendamente orgulhosas e queremos seguir como eles esta luta que não termina nunca, esta luta é para o bem de todos. Nos importa o que passa ao lado, como eles foram capazes de entregar suas vidas com este objetivo. Nós, Mães, vamos seguir reivindicando esta luta e demonstrando ao mundo que estão vivos, porque eram todos revolucionários, e todo revolucionário que quer o mesmo que eles queriam são eles. Portanto nossos filhos não morrerão nunca, porque todo revolucionário está vivo no mundo e naquele que quer fazer o que eles pretenderam fazer. Outra coisa é não cobrar reparação. Rechaçamos a compensação econômica, nos parece terrível aceitar dinheiro por vida. A vida não tem preço. A vida vale vida. Isso são os conceitos que as Mães não vão largar nunca, portanto não para a reparação econômica, não à morte, não a deixar de lutar pelos filhos e não a um passo atrás, nenhum passo atrás, não à reconciliação. Não vamos perdoar, não vamos hesitar e vamos seguindo lutando por um mundo melhor.

Mulier – O que pensam sobre os julgamentos recentes de autoridades envolvidas nas mortes e desaparecimentos durante a Ditadura Militar na Argentina?

Evel - Parece muito bom. Um pouco tarde, justamente devido à impunidade que usaram durante os anos anteriores, quando a verdade era conhecida, mas não podiam ser condenados. Quando vieram os Kirchners, foram anuladas as leis de “Obediência Devida” e “Ponto Final” e, então, hoje, graças à luta popular, em estar na rua, de manter a memória viva sobre o horror vivido, agora se pode julgar e condenar, e isso me parece perfeito. Sobretudo para a juventude, para que a juventude saiba da realidade, sobre o que se passou com os assassinos, o horror que vivemos por eles e até que limite chegaram, para saberem que nunca se cruzam os braços, sempre devemos seguir lutando. Então essa é a melhor mensagem para a juventude.

Mulier – Vocês têm acompanhado o processo nos vizinhos latino-americanos? Como avaliam?

Evel - Às Mães parecem certo que se julgue e condene. A justiça nos parece certa, porque nós não buscamos vingança, sempre buscamos justiça. Nunca aceitamos pena de morte, sempre a condenação dos assassinos. É uma coisa que nos parece perfeita. Mas as Mães, hoje, chegaram a um momento, depois de tantos anos, de decidir que tudo que fosse político passaria por valores humanos. Passamos a nos dedicar e a fazer pelo povo, que as crianças não tenham mais que morrer sem nome, tenham onde estudar, os pais tenham trabalho digno, boa educação, boa alimentação. Isso que as mães fazem, temos um exemplo do projeto “Sonhos Compartilhados”, construção de casas para acabar com a marginalidade. É um trabalho para educar essa gente, dar-lhe trabalho e a possibilidade de ter sua própria casa, trabalhem, estudem e tenham um lugar onde coloque seus filhos para trabalhar. Isso nos parece ser muito mais importante dedicar, criar universidade. Temos uma universidade há 10 anos. Este ano podemos legalizar as matérias pendentes, porque sempre foi uma universidade ilegal. Agora podemos legalizar o doutorado em Direito e Assistência Social. Isso é uma vitória impressionante da nossa universidade e temos a educação política como base fundamental, educação política e a história das Mães como norteadora de todas as carreiras.

Mulier – Quais outros trabalhos realizam e com qual (quais) segmentos sociais?

Evel – Temos uma biblioteca, uma videoteca, uma revista, uma rádio, a primeira à esquerda, e muitos programas interessantes, uma editora e um café literário. São muitas coisas pelas quais as Mães lutaram em 33 anos, não apenas vamos à praça. Mas ir à praça é fundamental, é um lugar de protesto, lugar de denúncias, lugar de compromisso maior com nossos filhos. Ir à praça é abraçar nossos filhos e é um compromisso para não deixar esquecer o horror que nos acompanhou.

Mulier – Qual o interesse de jovens pela causa das Mães? Quem continuará a luta de vocês?

Evel – Muito, porque tudo o que estou dizendo tem a ver com eles, já que as Mães já superaram, a maioria, a idade de 80 e 90 anos. Não podemos fazer coisas como fazíamos há 30 anos. Sem dúvida há uma grande quantidade de jovens comprometidos com este projeto, mas não sei se vai seguir adiante, não tenho uma bola de cristal para ver o futuro (risos).

Mulier – Historicamente, quando e como se deu a participação política das mulheres na Argentina?

Evel – Creio que foi quando Eva Perón permitiu o voto da mulher. Antes já havia mulheres revolucionárias que participavam de política, mas raras. Depois de Eva Perón, a mulher passa a se interessar mais, porque muitas também votavam como queriam o marido, o padre, o filho, muitas não votavam com a própria cabeça. A partir daí a mulher passa a votar pensando politicamente e pode se eleger. Eu costumo dizer sempre a quem pergunta em quem vou votar que, para votar, primeiro temos que perguntar quem foram estas pessoas. Se for uma pessoa com um passado politicamente atroz, está sempre contra o povo, pensa apenas nos ricos, este tipo não é para se votar, é necessário procurar outro candidato. Se não pensa só nos ricos, trabalha para o povo, vou votar nele. Senão, vou ter que analisar, como quem já atua no governo, já sabemos como atua e podemos saber se vale. Esta é a forma de ir separando quem pode ser, porque falar, falam muito, o importante é o que fizeram. Em quem não conhecemos, vamos votar na pessoa com um projeto que nos interessa. Se conhecemos, votamos em quem queremos que dê continuidade ao projeto. Essa é a melhor forma de eleição, não importando qual partido, importa o que é e o que quer ser. Nós podemos nos equivocar, logicamente, mas sempre o voto mais pensado é melhor.

Mulier – Como veem a crescente participação políticas das mulheres no país?

Evel – Vejo como uma oportunidade de decisão, assim como em outros países onde as mulheres podem participar. Assim como outros têm muitas mulheres, sendo um desastre. Não é porque tem mulher que o governo vai ser bom. Assim como também existem mulheres muito boas, mulheres que estão trabalhando pelo seu povo. Creio ser o mais importante o que fazem, o que querem fazer e ao que se dedicam, e a mulher hoje está dando um exemplo no país. Temos no Ministério do Interior, Ministério do Bem-Estar Social, uma mulher trabalhadora que está fazendo coisas importantíssimas; a ministra da Defesa, que tem mudado a educação nas Forças Armadas, e é um exemplo, nos honra. Então temos um montão de mulheres trabalhando muito positivamente para este país, nos dando uma confiança muito grande, assim como tem um monte de mulheres que não fazem, mas tem direito de participar e mostrar seu pensamento, isso é uma democracia.

Mulier – O sistema de cotas eleitorais ajudou nesse processo?

Evel – Penso que sim, tem ajudado a incluir as mulheres na política, pois há uma lei que criou cota de 30% para as mulheres. Mas eu digo não há garantia que haja 30% de mulheres e que os 30% façam as coisas bem. Creio ser importante, sim, as mulheres atuando, mas a mulher, assim como o homem, tem que atuar com um conceito em comum, de que a política é para o bem do país, sempre, pelo menos para que nós, Mães, aceitemos, não é a opinião de todos.

Mulier – Como avaliam o governo da presidenta Cristina Kirchner?

Evel – Nós apoiamos totalmente a presidenta Cristina Kirchner. Ela parece uma mulher muito inteligente, muito ativa, muito capaz, e com toda esta inteligência e capacidade ela está buscando um projeto político totalmente apoiado por nós por ser um projeto político para defender o país em primeiro lugar, para levantar o país. Quando ganhou Nestor Kirchner, o país estava em uma situação muito ruim. Sair disso depois de vinte e tantos anos de Ditadura e o mal de governos constitucionais neoliberais, levantar isso, pois o país ficou um caos, foi difícil. Ainda está faltando muito para fazer, mas se está fazendo, e muito, e bem. Portanto apoiando totalmente a presidenta Cristina e estamos muito orgulhosas de ser uma mulher fazendo isso, uma mulher muito capaz.

Mulier – Mulheres no poder  são sinônimo de melhorias na vida das mulheres? A Argentina tem uma mulher presidente e 40% de mulheres no Parlamento. O fato tem resultado em mais políticas públicas para as mulheres?

Evel – Sim. A presidenta firmou uma lei em defesa da mulher contra a violência. Isso é muito importante para as mulheres vítimas de violência em vários tipos de situação, mulheres agredidas, abusadas pela força bruta. Realmente são muitas as mulheres que sofrem violência não só em nosso país, mas em várias partes do mundo, são assassinadas, marginalizadas, usadas para a prostituição, tudo por meio da violência. É bom que a mulher possa se defender disso, recuperar sua autoestima, participar independentemente do que queira política ou economicamente. Trabalho importantíssimo, porque somos iguais.

Mulier – Quais os principais desafios das mulheres na Argentina atualmente?

Evel – Nós não fazemos muita distinção de gênero. Parece haver mais diferenças de classe. Apostamos no bem-estar geral, porque se a mulher é maltratada, o homem também é maltratado socialmente. Quer dizer, um homem, por ser pobre, é maltratado por ser pobre, não lhe dão trabalho, estudo, os filhos não têm casa e são marginalizados por serem filhos de pobres. A violência não é só de gênero, é de classe. As Mães da Praça de Maio buscam entender a diferença através da diferença de classe, não de gênero, apesar de admitirmos que o gênero seja importante, mas, no geral, é de classe. Nossos filhos desapareceram, homens e mulheres, foram torturados homens e mulheres, porque pensavam para um mundo melhor. O pensamento era único, não havia diferença de gênero, mas diferença de classe e pensamento. Creio que é onde se quer chegar, um país onde não há injustiça social, onde as pessoas têm direitos, todos por igual, não importa gênero e, sim, classe.

Mulier – Como políticas neoliberais interferiram na vida das mulheres no país?

Evel – De todo o país, interferiram na vida de classe, não de gênero. Fecharam fábricas para todos, não apenas para as mulheres. Não havia trabalho. Anos de Ditadura e Menem (Carlos Menem governou a Argentina entre 1989 e 1999) sem trabalho, quando os pais tinham que sair para pedir ou vender qualquer coisa. Não havia trabalho oficial, seguro social, não havia nada. Assim nasceram os piquetes, o povo foi à rua protestar porque não podia aceitar. Tinha que sair à rua para mostrar que as pessoas não tinham o que comer, este foi o horror que vivemos, mulheres e homens.

Mulier – Como tem trabalhado o movimento feminista na Argentina? 

Evel – Nós não somos feministas. Respeitamos o movimento feminista como todos que trabalham pelo diálogo, mas não pensamos da mesma maneira, consideramos homens e mulheres como uma categoria humana.

Mulier – A Associação das Mães tem apoio ou trabalha articulada com outros movimentos sociais?

Evel – Somos totalmente independentes. Temos apoio para ação e não para o que decidimos e resolvemos. Temos o exemplo do projeto “Sonhos Compartilhados”, firmando convênios com o Estado, porque não temos dinheiro. Firmamos o convênio para a construção de casas, escolhemos as pessoas envolvidas, o projeto é nosso, tudo é das Mães, a edificação teve que ser do Estado.

Mulier – Qual o papel que atribuem aos professores e à educação à luta de vocês?

Evel – A Universidade nasceu totalmente independente. Nasceu do projeto de quatro pessoas, que conversando um dia perguntaram o que achavam de fazer uma universidade. Quando Hebe (Hebe de Bonafini, presidenta da Associação das Mães da Praça de Maio) nos propôs, pensamos: “como vamos levantar uma universidade?”. Pensamos e fizemos. Agora todo este projeto precisa de apoio. Muitos nos apoiaram. Primeiro tivemos que pensar em como ter dinheiro para abrir a universidade, mas tivemos apoio em todo o mundo, e o primeiro a ajudar foi a Holanda, com dinheiro e apoio político para manter. Vendemos uma casa também para comprar a sede onde está a Universidade hoje. Mas faltava espaço. Vendia-se uma casa ao lado, e fizemos um festival, todos os participantes deram as verbas para as Mães. Então, fizemos vários festivais em Buenos Aires e em Rosário e compramos a casa. Foi uma colaboração global. Tudo que as Mães têm é colaboração. Às vezes vendemos algumas coisas para ter meios e poder atuar com a independência que atuamos. A base principal dessa Universidade é socializar, mostrar que o mais importante do ser humano é a solidariedade. É como o que passou conosco, com nossos filhos, sempre nos falamos e nos preocupamos com o que se passa ao lado. Não se dá o que te sobra, compartilha-se o que se tem, e todas estas coisas nos dão um sentido solidário. Por isso as Mães socializaram também a maternidade, as Mães não chamam pelos filhos, não pronunciam seus nomes, resolvemos socializar a maternidade colocando nos ombros todos os filhos e pedimos pelos 30 mil desaparecidos, somos mães dos 30 mil, portanto faltam 30 mil, e reclamamos por isso. É o nosso passo mais forte, porque nunca houve 30 mil Mães, isso é a forma mais direta de mostrar nossa solidariedade e que, na vida, o mais importante não é fazer dinheiro, na vida o mais importante é a parte humana.

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